Temos estatísticas chocante para ti: 91,5% dos programadores são homens, de acordo com uma pesquisa global de desenvolvimento de software de 2020. E a partir de 2022, as mulheres representam apenas 26,7% das pessoas empregadas em todas as áreas de tecnologia. A PwC descobriu que apenas 27% de estudantes do sexo feminino disseram que poderiam considerar uma carreira em tecnologia e apenas 3% fariam da tecnologia a sua primeira escolha, mas 61% dos estudantes do sexo masculino disseram que considerariam a mesma carreira em tecnologia. Então o que é que está a acontecer? Está provado que a existência de mulheres na tecnologia é bastante benéfica e aqui está o porquê:
Vozes diferentes: uma grande parte das funções em tecnologia está a antecipar e a resolver problemas que as pessoas têm e as mulheres podem fornecer experiências únicas que podem ajudar a tornar as soluções de tecnologia mais acessíveis e eficazes para todos.
Mentores: uma grande barreira para as mulheres entrarem na indústria de tecnologia é que não veem mulheres em cargos de chefia e não têm muitas mentoras disponíveis. É difícil de implementar, mas mais mulheres líderes em tecnologia encorajariam as mulheres mais jovens a também entrar na indústria.
Cultura do local de trabalho: estudos mostram que os locais de trabalho com distribuição equitativa de género têm ambientes seguros, apresentam maior satisfação no local de trabalho e aumentam a segurança.
Produtos melhores: é natural que usemos as nossas experiências pessoais quando estamos a criar algo e um produto desenhado por homens vai centrar-se nas experiências masculinas. Quando as mulheres estão envolvidas no processo de design, o produto pode integrar experiências diferentes e específicas das mulheres.
Antes de mergulharmos nas especificidades das mulheres no mundo da programação, vamos discutir as mulheres na tecnologia em geral.
As mulheres na tecnologia
As mulheres estão sub-representadas na tecnologia: é um facto simples. Apenas 5% das start-ups dos EUA são propriedade de mulheres e apenas 5% dos líderes tecnológicos do Reino Unido são mulheres. E por que é que isto acontece? As razões são inúmeras, mas vamos concentrar-nos em três:
Preconceito social: o preconceito sexista é um fator significativo na forma como determinados trabalhos são percecionados e no que as jovens acham que são capazes de alcançar. As mulheres líderes na tecnologia raramente são mencionadas e a grande maioria dos cargos na tecnologia (especialmente cargos de chefia) são ocupados por homens. Se fores uma menina de dez anos e se vires empresas quase inteiramente formadas por homens, a conclusão natural a que chegas é que não são para ti. E se as jovens não encararem desde cedo a tecnologia como uma opção, será difícil mudar esta mentalidade mais tarde.
Educação: o preconceito da sociedade impregnou-se nos sistemas escolares, e como as jovens não observam uma maioria feminina nas aulas de STEM, ficam a achar que não são para elas. A falta de aulas focadas em tecnologia, no início, torna menos provável que as jovens escolham seguir mais tarde uma carreira em tecnologia.
Sistemas do local de trabalho: além de forças de trabalho amplamente desiguais, com uma clara maioria de homens, a liderança de empresas tecnológicas é principalmente masculina. Nem mencionamos o facto de as mulheres terem salários mais baixos, oportunidades de crescimento limitadas e enfrentarem diariamente situações de discriminação.
Quando questionadas, as mulheres apontaram estes cinco motivos como as principais barreiras que enfrentam na tecnologia: falta de mentoras, falta de modelos, preconceito de género no trabalho, oportunidades de crescimento desiguais e remuneração desigual.
As mulheres no desenvolvimento web
Quando tentamos responder à pergunta “por que é que não há mais mulheres a escolher o desenvolvimento web?”, enfrentamos várias realidades duras. Naomi Timperley, Administradora da Tech North Advocates na Entrepreneurial Spark afirma que:
“As jovens estão a ser deixadas de fora da discussão quando se trata de tecnologia. São levadas a pensar que a tecnologia é insular e antissocial e nunca têm a possibilidade de corrigir estas perceções. Este padrão pode começar nas nossas casas, mas tem implicações significativas na nossa economia e nas mulheres em geral. Se as mulheres não participarem na tecnologia, estarão a perder a hipótese de influenciar a maior mudança económica e social deste século. As jovens têm de procurar a tecnologia à sua volta e entender que foram as pessoas que criaram essa tecnologia.”
A origem da falta de mulheres em web development tem duas partes: por um lado, está enraizada no que as jovens ouvem em casa e, por outro lado, o próprio ambiente de trabalho do desenvolvimento web pode ser tóxico para as mulheres e pouco convidativo. Para combater estes dois problemas, há uma série de ações a serem tomadas:
Criar um ambiente seguro para as mulheres: as estatísticas sobre assédio sexual no local de trabalho em tecnologia são verdadeiramente chocantes. 60% das mulheres com dez anos ou mais em tecnologia relatam investidas sexuais indesejáveis e 50% das mulheres seniores em tecnologia sofreram ou testemunharam uma agressão sexual nos últimos cinco anos. Nem vamos sequer referir denúncias de assédio sexual. 4 em cada 10 mulheres que sofrem assédio sexual não denunciam por medo de repercussões nas suas carreiras.
Incentivar a educação tecnológica nas jovens: a codificação é para todos e as organizações, como a Women in Tech, estão a trabalhar para capacitar as jovens e as mulheres em todo o mundo para entrar na tecnologia e para fazer a diferença.
Foco na diversidade e na inclusão: ter mulheres em cargos técnicos é uma coisa, mas garantir que as vozes delas sejam ouvidas e tratadas como iguais é outra coisa completamente diferente. Muitos negócios acontecem fora do local de trabalho e 66% das mulheres relataram que se sentiram excluídas das oportunidades de interação social devido ao seu sexo.
Trabalhar para eliminar a dupla moral e os preconceitos (conscientes e inconscientes): a configuração atual dos conselhos de administração e das empresas em geral foi projetada para homens, e para ver uma verdadeira mudança, estes sistemas têm de ser redesenhados para eliminar os preconceitos. Embora existam certamente casos em que as pessoas dentro da empresa discriminam as mulheres, o sistema por si só é deficiente. Alguns dos principais tópicos aqui seriam:
Nunca mais perguntar às mulheres quais os seus planos para constituir família e/ou como isso afetará a sua carreira;
Abordar preconceitos em relação a mulheres que fazem negociações e que têm opiniões fortes (são frequentemente consideradas agressivas ou mandonas, algo que não é atribuído aos colegas de trabalho do sexo masculino, que agem da mesma forma);
Fazer promoções com base nas competências e nos resultados concretos, em vez de baseadas na perceção ou nos relacionamentos.
As líderes em web development
Apesar do conjunto de problemas enfrentados pelas mulheres em programação, atualmente, são as mulheres que ocupam várias posições de liderança. A possibilidade de aprender com as experiências destas mulheres, pode não só ajudar a incentivar as jovens a focarem-se na tecnologia, como também a destacar áreas que precisam de ser melhoradas no setor. E não se esqueça que as mulheres têm sido, ao longo da história, agentes de grande importância na tecnologia:
Ada Lovelace foi a primeira programadora de computadores em 1840;
A equipa que criou o primeiro computador ENIAC era 100% feminina;
A primeira linguagem de programação de alto nível foi criada por Grace Hopper em 1959;
A cientista americana de computação Margaret Hamilton introduziu o termo “engenharia de software”.
Vamos analisar algumas das principais vozes femininas da programação:
Beata Zalewa
A viver na Polónia, Beata é coach de TI, consultora e programadora full stack. Além da sua ampla variedade de competências em programação, é mentora ativa na Learn IT, Girl! e na Tech Leaders Poland, escrevendo artigos para as revistas IT Professional e Lubelski Programista. Tem a sua própria empresa e oferece consultas especializadas gratuitas.
Sara J. Chipps
Programadora de JavaScript, Sara tem mais de 20 anos na indústria de tecnologia e é cofundadora da Jewellbots, uma empresa que se foca em aumentar o número de raparigas jovens que participam nos campos de STEM usando hardware. Também é cofundadora da Girl Develop It, uma organização sem fins lucrativos que ensinou mais de 100 000 mulheres e pessoas não binárias a criar software.
Jenny Chen
Jenny fundou o grupo de Facebook Women in Web Dev que tem mais de 5000 membros em todos os níveis de especialização. Trabalha como programadora freelancer e continua focada no crescimento da sua comunidade online para ajudar as mulheres a entrar no setor.
Existem inúmeras mulheres que se destacam diariamente na programação, mas cabe-nos a nós continuar a aumentar este número, apoiando jovens interessadas no setor e criando ambientes de trabalho seguros e de apoio para mulheres na tecnologia. És a próxima?